Há esperança para os imperfeitos

Há muito tempo ando achando o mundo totalmente esquizofrênico. Volta e meia me pego observando o comportamento das pessoas e constatando que nada tem sentido algum. Olho para a televisão e vejo a apresentadora dando uma notícia que já foi anunciada mil vezes com uma expressão beirando a perplexidade. Nas relações afetivas, os casais acenam com relacionamentos perfeitos, tentando esconder a todo custo um universo de decepções. Nas parcerias de trabalho então, nem se fala. Uma amiga afirma, com propriedade, que todo mundo parece estar fingindo o tempo inteiro. Fingem que dominam as técnicas mais complicadas, que são ótimos no quesito relacionamento humano, usam calças compridas mas juram que não têm estrias nem celulites, enfim, fingem que podem tudo desconhecendo a grande liberdade do ser humano, que é a consciência constante de que não sabemos nada, não dominamos nada, apenas tentamos... e tentamos...

Por causa disso desenvolvi uma técnica imbatível para me sentir cada vez melhor: rir de tudo, rir de todos e, principalmente, rir de mim mesma. Outro dia mesmo cometi um erro crasso e, a certa altura, recebi a ligação da pessoa para a qual eu tinha feito o trabalho. Cheia de dedos, a pessoa disse que não tinha entendido direito o que eu queria dizer, mas fui direta: "Eu não quis dizer nada não, eu errei mesmo". Só que, ironicamente, é essa liberdade de errar, de eventualmente fracassar, que vai nos tornando mais resistentes as nossas próprias falhas. Que são tantas e tão recorrentes...

Que me desculpem os perfeitos, os que sabem tudo, os que não falham nunca. Para esses, não custa lembrar a frase do russo Tchekhov: "Errar é humano: mais humano ainda é atribuir o erro aos outros", artimanha usada com maestria por muita gente. Enfim, ando pensando que a vida não tem solução como a idealizamos. Talvez a culpa seja dessa sensação ilusória de imortalidade que toma conta daqueles que têm o nariz em pé. Aqueles que sabem que vão morrer mas que, volta e meia, esquecem desse detalhe insignificante.

por Bety Orsini

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