A raiva não nos ajuda a pensar
Edgar Schein, grande estudioso da cultura
organizacional, desde 1980, dizia que se quisermos entender o funcionamento de
uma empresa era necessário observar seus símbolos, os rituais e o mais
importante ouvir as conversas de corredor. Essas histórias costumam ser mais
reveladoras do que o balanço da empresa. Falam do ar que se respira, ou seja,
do que não está escrito nas paredes e nem disponível na intranet. Falam de sentimentos,
de emoções, relacionamentos. Por isso são tão poderosos e capazes de transformar
a mente de quem as escuta. Nossos antepassados já contavam histórias como uma
das maneiras mais efetivas de se adquirir conhecimento.
E a explicação está no
funcionamento de nossa mente. Quando o nosso cérebro recebe dados e números, o
hemisfério esquerdo é ativado e se encarrega de analisar e organizar as
informações, já o hemisfério direito é negligenciado. É ele quem nos faz mais inovadores
e intuitivos. Por isso, transmitir ideias através de histórias é o meio mais rápido de se chegar ao cérebro e às emoções de quem
as escuta.
Nas
organizações é muito comum os líderes contarem histórias sobre suas vidas e
experiências, e que despertam sentimentos de quem as ouve. Essa prática
tornou-se uma das ferramentas mais utilizadas no desenvolvimento da liderança.
Então
vamos ativar os hemisférios direito e esquerdo com a leitura de fábulas e
refletir sobre a vida corporativa.
Fábula 1
O Falcão de Gêngis Khan
Gêngis Khan foi caçar acompanhado de seus
generais de confiança e de seu falcão favorito. Sem conseguir muita coisa, os
homens resolveram voltar ao acampamento. Fazia muito calor. Todos estavam
exaustos e com sede, e nem uma gota de água era vista nos riachos.
De
repente, um dos generais percebeu ao longo de um filete de água correndo entre
as pedras. Seria suficiente para refrescar os lábios. O imperador parabenizou o
oficial pela visão e o grupo saiu a galope em direção às pedras.
Gêngis Khan encheu um pequeno cálice e se
preparava para beber a água quando o falcão, que havia sumido entre as nuvens,
desceu como uma flecha e derrubou o recipiente.
O
imperador ficou aborrecido com seu falcão favorito, mas lembrou que a ave
também tinha sede. Ele voltou a encher o cálice no fio de água. Só que mais uma
vez o animal arrancou-o de suas mãos.
- Oh! – exclamaram os generais diante de tanta
ousadia.
Gêngis Khann ficou furioso. Embora fosse seu
animal de estimação, não podia tolerar tamanha falta de respeito. Sobretudo
diante de seus generais de confiança. O que pensariam se ele não fosse capaz de
dominar o falcão? Como seria respeitado? Com a autoridade que lhe era peculiar,
disse:
-
Seja bicho ou gente, o próximo que se atrever a derrubar o cálice será
atravessado por uma flecha.
Não
muito convencido que a ave tinha entendido a ameaça, o imperador começou a
encher o recipiente com um olho no céu e o arco preparado nas mãos. Ao ver que
o falcão despencava em sua direção, não teve dúvida e atravessou o bicho com um
disparo certeiro. Os generais ficaram em silêncio. Sabiam que a ave significa
muito para o seu líder, que cuspiu no chão ao ver que o fio de água havia
secado. Não deu muita importância. Queria beber de qualquer maneira.
Ele
escalou as rochas á procura da fonte e, a despeito do calor, ficou gelado com o
que viu. Uma serpente boiava na água. Estava morta, mas a boca aberta derramava
seu veneno no líquido precioso. Gêngis Khan estava a um gole de ser apenas um
nome nos livros de História.
O
imperador voltou ao acampamento com o falcão morto nos braços e mandou fazer
uma estátua fiel do animal em ouro. Ordenou a seguinte inscrição na asa
direita: “Mesmo quando faz algo de que você não gosta e não entende, o amigo
continua sendo seu amigo”. Na esquerda, mandou gravar: “Qualquer ação provocada
pela fúria está condenada ao fracasso”.
Aristóteles dizia
que se aborrecer é fácil, qualquer um consegue. Entretanto, aborrecer-se com a
pessoa certa, na medida exata e com a energia necessária é coisa para sábios. O
mesmo se aplica às organizações. Não podemos ter os nervos à flor da pele,
sempre armando confusão. É péssimo para a imagem e para o ambiente. A raiva não nos ajuda a pensar.
por Carla Medrado
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