Ginástica Cerebral

A GINÁSTICA CEREBRAL é um método científico desenvolvido a partir de 1960 pelo Dr. Paul Dennison, PhD em Educação pela Universidade da Califórnia. Em 40 anos de pesquisa, juntamente com toda uma equipe de especialistas, médicos, neurologistas, psicólogos, e professores, desenvolveu 32 exercícios que estimulam o cérebro. A GINÁSTICA CEREBRAL integra os estudos da educação cinestésica (a ciência do movimento) com a pesquisa cerebral aplicada. O objetivo da técnica é ativar os 2 lados do cérebro ao mesmo tempo: o direito (criativo) e o esquerdo (lógico), para aumentar a área de utilização, e assim melhorar a memória, aprendizado, concentração, criatividade, além de eliminar o stress.

Os exercícios são todos muito simples e fáceis; qualquer pessoa de qualquer idade pode fazê-los, pois não apresentam riscos nem contra-indicações.

Aumentar a memória e o poder de concentração, incrementar a capacidade de aprender, turbinar a criatividade, reduzir o estresse por excesso de informação e aperfeiçoar a atividade cerebral com exercícios on-line que não tomarão mais do que 30 minutos do seu dia. Tudo isso por menos de R$ 50 por mês. Você quer?

Provavelmente, sim. Com apelos como esses, sites que vendem programas de exercícios para estimular o funcionamento dos neurônios estão ganhando espaço e conquistando internautas que não hesitam em sacar o cartão de crédito diante das promessas --que vão de mais eficiência nas tarefas intelectuais a mais sucesso na carreira, passando pela superação de dificuldades de aprendizagem em crianças.

Mas será que essa malhação virtual do cérebro faz sentido? Pouco. Essa é a resposta unânime dos especialistas ouvidos pela Folha. Para eles, não há ainda subsídios científicos à idéia de que executar um determinado grupo de exercícios em frente ao computador garantirá melhor performance cerebral. Só uma coisa é certa, ensinam: quanto mais se usa o cérebro, melhor ele funciona e mais protegido está de doenças e de degeneração.

"Não restam dúvidas de que o estímulo é fundamental. Daí pra frente, o conhecimento é muito vago. Não dá para dizer que quem faz palavras cruzadas fica mais inteligente ou que quem ouve mais música consegue se tornar um pai melhor, por exemplo.

Qualquer associação desse tipo é arbitrária", enfatiza Roberto Lent, professor de neurociência do instituto de ciências biomédicas da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Ele explica que, de fato, estimular o cérebro com atividades intelectuais consolida as sinapses --conexões entre os neurônios-- e até forma novas.

É o que acontece com um vestibulando quando estuda um determinado conteúdo, lendo e pesquisando muitas vezes sobre ele, ou com um artista que realiza vários ensaios antes de uma apresentação. "No final desse processo, ambos terão uma memória consolidada. Há um crescimento na síntese de proteínas, promovendo maior adesão entre os neurônios", diz Lent.

Benito Damasceno, professor de neurologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), diz que não há nenhuma particularidade dos exercícios on-line em relação aos outros que garanta maior ou menor efeito no desenvolvimento cerebral. "Qualquer atividade intelectual é válida para desenvolver as sinapses."

Ele explica, ainda, o que acontece quando o cérebro é ativado sob qualquer forma de estímulo intelectual. "A pessoa tem um aumento no fluxo sangüíneo.

A cada tipo de atividade, ela ativa um conjunto específico de neurônios, que, geralmente, aumentam também o consumo de glicose e de oxigênio", detalha. Não há evidências de que esse "treino" disparado pelos estímulos tenha efeito prático no dia-a-dia das pessoas.

Os exercícios virtuais podem ser válidos, desde que o usuário se interesse por eles e sinta prazer em fazê-los. Além disso, para quem já leva uma vida repleta de estimulação intelectual, trocar minutos de sono --atividade, aliás, fundamental para o bom funcionamento do cérebro-- pela obrigação de concluir o programa proposto pelo site de exercícios para neurônios pode ser uma escolha inútil, alertam os especialistas.

"É preciso haver contextualização desse estímulo. Uma criança urbana com deficiência de aprendizagem e que se interessa pelo computador pode tirar proveito do método. Por outro lado, uma criança do campo com o mesmo problema pode preferir uma árvore para subir", observa Sérgio Leme da Silva, coordenador do serviço de neuropsicologia do Hospital Universitário de Brasília.

Correntes

Fundamentadas nas comprovações de que o cérebro permanece plástico e pode ser treinado ao longo da vida, duas correntes teóricas defendem a prática de exercícios de estimulação cerebral.

A primeira é a neuróbica, criada por Lawrence Katz, professor de neurobiologia e pesquisador do Instituto Médico Howard Hughes, nos Estados Unidos. Katz desenvolveu exercícios que propõem tornar o cérebro mais rápido e flexível.

Um dos fundamentos está em quebrar a rotina, fazendo as mesmas atividades de modos diferentes: destros escovarem os dentes com a mão esquerda, por exemplo. Tirar férias em lugares desconhecidos e aprender novas línguas também estão entre as dicas de estimulação cerebral da neuróbica.

A segunda corrente é conhecida como "brain gym" --ou "ginástica cerebral"-- e foi idealizada por Paul Dennison, criador da educação cinestésica e doutor em educação pela Universidade do Sul da Califórnia, nos EUA.

Aqui, o caminho para aprimorar a performance mental é acessar áreas do cérebro antes inativas praticando certos exercícios físicos e movimentos. De acordo com Dennison, girar o pescoço com o corpo relaxado ajuda a ler melhor em voz alta, por exemplo. A corrente é criticada pelos especialistas da área de neurociência.

Sites e jogos

Somente 90 dias para sentir os resultados. Esse é o prazo mencionado pelo site BrainBuilder (www.brainbuilder.com). Com assinatura mensal de US$ 7,95, o treinamento conta com um personal trainer virtual que, a partir de uma avaliação do desempenho cerebral, indica os melhores exercícios.

Uma das tarefas sugere a memorização de seqüências de letras e números, que devem, depois de ouvidas, ser digitadas, às vezes de trás para a frente. "Na verdade, esse tipo de prática é mais um teste da memória operacional do que exatamente um estímulo. Repeti-la diariamente não significa que você está aperfeiçoando o cérebro", afirma Sérgio Leme da Silva.

Já em MyBrainTrainer's (http://mybraintrainer.com), o foco é na velocidade de raciocínio. No teste gratuito, você é convidado a responder "sim" ou "não" para a combinação entre uma palavra e um desenho. Quando o programa diz "reversal", é preciso responder ao contrário. O diagnóstico, repleto de comparações com os obtidos pelos outros 6.000 usuários, informa como está o seu desempenho em relação à média e o convida a aprimorá-lo em 21 dias.

Há também sites que trazem os chamados "jogos cerebrais". Em www.gamesforthebrain.com, o internauta encontra gratuitamente mais de 30 opções deles. O mais famoso é o sudoku, game de raciocínio em que o jogador precisa elaborar seqüências de números em um grande quadro --como aquele utilizado nas palavras cruzadas-- de forma que eles não se repitam nas posições horizontal e vertical.

Outros jogos, também disponíveis no "Games for the Brain", lembram diversões já conhecidas, que as crianças fazem no papel até hoje, como o "what word". Ele é parecido com o antigo jogo "forca", em que o jogador recebe dicas para tentar adivinhar qual é a palavra secreta.

Entre os sites brasileiros, o despretensioso Rachacuca (www.rachacuca.com.br) tem jogos simples, também gratuitos, que exigem raciocínio e atenção. Não há promessa de tornar o internauta mais inteligente. Também mais voltado à diversão está o www.gratisjogos.com.br/raciocinio-e-escape.php.

O diferencial são os cenários e as situações. Estratégias de fuga e cálculos para desarmar bombas antes de o tempo preestabelecido acabar estão entre os jogos oferecidos.

Apostas

A falta de pesquisas científicas que comprovem os benefícios dos chamados "jogos cerebrais" não impede que alguns profissionais da área de games apostem neles como grandes aliados em variados aspectos da saúde mental.

Eles se baseiam em experiências feitas por pesquisadores com a utilização de questionários ou por observação de jogadores. "Há alguns sinais de que esses jogos exercitam a mente, mas, realmente, não são evidências biológicas.

O que notamos é uma menor incidência de perda de raciocínio cognitivo entre as pessoas que jogam esse tipo de game quando comparadas àquelas que não jogam", afirma Ben Sawyer, fundador da "Games for Health" (Jogos para a Saúde), associação de Washington que tem o objetivo de unir pesquisadores, médicos e empresas produtoras de games que queiram compartilhar informações sobre o impacto dos jogos na saúde.

Em entrevista à Folha, Sawyer reconhece que ainda faltam estudos nessa área e prevê que os primeiros resultados concretos devem ser alcançados em um prazo mínimo de dez anos. "Já temos alguns estudos que indicam, por exemplo, um certo aumento da capacidade de memória em quem joga.

Mas deve levar aproximadamente uma década até que esse e outros efeitos sejam comprovados biologicamente ou não", diz. Sawyer defende o estudo do uso de jogos de lógica no tratamento de doenças que envolvam envelhecimento do cérebro, incluindo o Alzheimer e outras formas de diminuição de capacidade de cognição.

Também na área da observação, a forma como a cognição do ser humano pode --ou não-- evoluir com o videogame é tema da tese de Roger Tavares, professor do curso de pós-graduação em games do Senac de São Paulo. Para ele, as pessoas que começam a jogar com freqüência apresentam uma característica comum, que pode indicar um ponto de partida para os estudos nessa área.

"Quanto mais elas jogam, mais querem jogar e, a cada vez, em estágios mais complexos", diz o professor, levantando a hipótese de que o cérebro, depois de se "acostumar" a desenvolver determinadas conexões, sente a necessidade de criar outras, aumentando o seu repertório de habilidades.

Para atrair os "gamemaníacos" que apostam na eficiência do desenvolvimento de determinadas áreas do cérebro com a utilização dos jogos, as empresas da área começaram a multiplicar problemas de lógica dentro dos enredos de jogos que, anteriormente, não tinham essa característica.

Com isso, mesmo o jogador que deixa a internet de lado para se divertir nos games do seu console preferido pode se deparar com a necessidade de fazer um cálculo ou de desvendar uma senha complexa antes de entrar para a próxima fase de um jogo de tiro, por exemplo. Um estilo de diversão que, até pouco tempo, não costumava trazer esse tipo de desafio.

Memória e qualidade

No programa que coordena com idosos portadores da doença de Alzheimer no Hospital Universitário de Brasília, Sérgio Leme da Silva defende que o estímulo seja contextualizado, personalizado e não tenha como meta a retomada da capacidade de memorizar.

"Muitas vezes, aperfeiçoar a memória não é a principal questão. O importante é trazer qualidade de vida para aquele paciente. A estimulação cerebral por atividades como o relato de lembranças e a associação de cores leva a isso", explica.

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