Carta ao Planalto sobre a boa “Não podemos predizer o futuro. Mas podemos criá-lo.”
Prezada presidente,
O professor americano Jim Collins publicou um livro
(“Vencedoras por Opção”, HSM Editora) no qual relata suas pesquisas de nove
anos com 20.400 empresas dos EUA. O levantamento visava responder: “Como
algumas empresas crescem vigorosamente na incerteza, mesmo no caos, e outras
não?”.
A conclusão foi a de que aquelas que mantiveram um
caixa robusto e um crescimento moderado, porém constante, foram as verdadeiras
vitoriosas ao final de algumas décadas. Jim Collins e sua equipe provaram que
as empresas se beneficiam fortemente de uma prática financeira segura e de um
crescimento lento e previsível.
Para países isso não pode ser diferente. As empresas
(públicas ou privadas) precisam de previsibilidade para ter a confiança de
investir. Ninguém deseja que o país cresça 10% num ano e 1% no outro. Qualquer grande variação na economia
provocada por desequilíbrios só traz dissabor
e prejuízo a todos.
Um país e uma empresa são sistemas complexos. Para a
empresa investir, não significa simplesmente colocar dinheiro em uma obra. Não
é um evento trivial, envolve a vida de muita gente e não pode ser feito somente
com base em promessas ou projeções otimistas.
Para o governo não é diferente. Desequilíbrios e variações
causam sempre prejuízo. Quando a economia piora, o governo tem que sair em
socorro de alguns setores. Nada é gratuito. Tudo tem um custo e se resume a uma
imposição de ônus, hoje ou no futuro, sobre o restante da sociedade.
Assim como o capitão de um navio estuda as condições
climáticas para decidir seu rumo e velocidade, o empresário observa o rumo
político, a transparência das contas públicas, a condição fiscal do país, a
pressão inflacionária, juros, câmbio, entre outros fatores, para tomar suas decisões.
Para acelerar, é necessário que o mar esteja calmo e previsível.
O crescimento contínuo, mesmo que moderado, é
importante para todo mundo. Talvez essa seja a principal política social que um
governo possa desejar.
Se queremos crescer, temos que mobilizar capital.
Somente por criar condições estáveis da economia e que permitam a previsão
segura de crescimento, o governo aumenta dramaticamente a capacidade de atrair
capital ao país. Crescimento previsível tem valor em si mesmo para o
investidor.
Nunca ouvi de nenhum empresário palavras contra as
políticas sociais. Pelo contrário. No entanto, todos nós temos ouvido muitas
reclamações sobre a imprevisibilidade da economia e sobre a falta de
perspectiva de crescimento.
O Brasil é um país de 200 milhões de habitantes e a
sétima economia do mundo. Um transatlântico que não admite mudanças muito
rápidas de curso, pois estas custam muito caro a todos.
Tudo o que um governo precisa fazer é trabalhar duro
em suas crenças políticas, mas dentro dos fundamentos da economia, com metas
sobre indicadores simples e visíveis, de tal modo a criar o ambiente de
segurança e a expectativa do crescimento, ainda que moderado.
Ninguém está pedindo que o país tenha um crescimento
chinês, mas que cresça um pouco a cada ano, sempre no mesmo ritmo, como sugere
Jim Collins, de tal forma que possamos trabalhar com calma e sem sobressaltos,
melhorando, de fato, a vida de todos.
VICENTE FALCONI, 74, é sócio-fundador e presidente do
Conselho da FALCONI Consultores de Resultado. Esta é uma das três cartas sobre
a boa gestão endereçadas à presidente da República. Veja as outras duas.
Texto publicado no
jornal e portal da Folha de São Paulo – Opinião – 02/12/2014
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